quinta-feira, 9 de abril de 2015

Confira aqui!

Entrevista na íntegra realizada pelo Jornal Língua Solta - Área de Linguagens e Códigos a mestranda em educação, Professora Maria Rabelo de Alencar Bezerra (Leninha) que relatou um pouco sobre sua exitosa experiência como professora de língua portuguesa no ensino médio.

 

FALE UM POUCO SOBRE SUA EXPERIÊNIA NO ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA NO ENSINO MÉDIO.

Na premissa de que o ensino da Língua Portuguesa se justifica sobretudo pelo objetivo de desenvolver a competência comunicativa dos usuários da língua, associo os versos poéticos de Cecília Meireles: “Ai, palavras, ai palavras! Que estranha potência a vossa! Todo o sentido da vida principia a vossa porta,” para evocar enredos e percursos docentes que, embora semelhantes, nunca são idênticos nos diversos tempos e espaços sociais e escolares, no entanto a prática com a palavra, sempre tão potente, estará permeando a interface leitura e escrita, para ressignificação pelo aluno. Neste sentido, as minhas aulas estão abertas ao contato do estudante com a multiplicidade de gêneros sociais, inclusive as variedades linguísticas, que são sem dúvida, reflexo da pluralidade de discursos. Para tanto, movida pelo desafio contínuo de aprender a refletir sobre a própria docência, percurso sempre incompleto em nossos tantos inacabamentos, conforme Paulo Freire. Entretanto, imprescindível para transformar sentidos e sentimentos capazes de criar situações de aprendizagem e mobilizar a capacidade dos alunos produzirem e compreenderem textos nas mais diferentes situações de comunicação. Obviamente, sem uma visão reducionista ou preconceituosa do certo ou errado, porque modestamente iluminada por uma visão política e humanizada. Contudo, por orientação do próprio Sistema, dando ênfase à variedade padrão, considerada a vertente de acesso à participação ativa do aluno do Ensino Médio na vida social, à ascensão social e ao exercício da cidadania
QUAIS OS DESAFIOS DO ENSINO MÉDIO?

O Ensino Médio como etapa conclusiva da educação básica, considerada dos 4 aos 17 anos, só foi efetivamente reconhecido a partir da emenda constitucional 59/ 2009 e incluído no texto da atual Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional em abril/ 2013. Portanto, é absolutamente recente sua revalidação como direito a ser garantido aos jovens brasileiros. Assim, a chamada crise atual do Ensino Médio (graves problemas de acesso, repetência, além do maior índice de abandono), evidencia a ausência histórica dessa etapa educativa como possibilidade de todos. Isto deve-se, ao reiterado foco do Ensino Médio orientar-se por um modelo clássico dual, secularmente dependente e de modo consentido, sujeito à intervenção dos interesses estrangeiros, inclusive pelos convênios e financiamentos de órgãos presentes na indução das reformas educacionais, que prepara para a entrada na universidade ou a oferta de uma profissionalização esvaziada também de uma formação humana integral. Por isso, sob a ótica política e social, concordo com a afirmação do cientista Gaudêncio Frigotto no livro Ensino Médio:ciência, cultura e trabalho: acorre às escolas de Ensino Médio uma juventude marcada pela necessidade de escolaridade e de trabalho para prover seus meios de vida. Logicamente, se ela não vislumbra ali sentido para o seu projeto de vida, principalmente os alunos do 3º ano, ao se confrontar com frustrantes expectativas: o ingresso na universidade não representa uma possibilidade para a maioria e o desejo de trabalhar ou melhorar profissionalmente, perdem o interesse, a motivação e muitos desistem. Desse modo, o grande desafio para o Ensino Médio, após sucessivas e infrutíferas reformas adaptativas, consiste na legitimação de um redesenho curricular, em uma lógica que, segundo a Coordenadora Geral de Ensino Médio da Secretaria de Educação Básica do Ministério da Educação Sandra Garcia:” possa equilibrar saberes relevantes e projeto de vida, sem desqualificar ou aligeirar a experiência escolar”. Assim, possam “as juventudes”construir novos conhecimentos, habilidades, experiências que permitam fazer suas escolhas e ter uma inclusão emancipatória nesta sociedade, que cabe a todos transformar. Principalmente, nós educadores, para quem o sentido da integração do aluno à escola está muito vinculado à sua identificação conosco, temos a grande, se não a maior parte da responsabilidade de motivá-los, atuando numa atitude de cuidado e ternura, na compreensão de que, parafraseando Guimarães Rosa, o mais importante e bonito, do mundo, é isto: que as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas – mas que elas vão sempre mudando. Em outras palavras, o crescimento dos alunos depende substantivamente dos vínculos que estabelecem conosco na convivência.
Quais são as características do professor do Século XXI
Na compreensão de que educar é cuidar da semeadura da vida, fazer educação não se resume no domínio da técnica; o conhecimento é importante, quando ressignificado, mesmo assim, a ele é preciso que agreguemos à nossa prática outros elementos que não estão nos livros: valores, sentimentos e atitudes. Por isso, refletindo sobre a condição docente, na qual se registram nossas vidas de professores do Ensino Médio, ou seja, tentando buscar no coração da docência, o que nos constitui e nos move nesse nível de ensino, selecionei algumas palavras. Palavras simples, belas e potentes, que no meu discernimento devem caracterizar o educador deste século, visto que são elas geradoras de vida. Entre tantas, destaco: a afetividade, o diálogo ,o respeito, a inteligência emocional e o comprometimento com a própria formação continuada que se tornou permanentemente necessária.
Inicio com força da afetividade, sentimento capaz de criar redes de cuidados com o outro, pelo prazer de estar junto, independente de sua condição. Logo, a linguagem afetiva é uma abertura natural para o diálogo, que se opõe ao autoritarismo, à autossuficiência e, consequentemente, inspira a confiança e o respeito que ultrapassam os limites das disciplinas. De modo que nessa relação linear vai se estabelecendo uma convivência saudável de reconhecimento mútuo, não obstante sua construção/reconstrução, muitas vezes, seja provida de tensões e da possibilidade de equívocos, porém, nada que não possa ser conciliado pela inteligência emocional em conexão com a práxis oportunizada pela administração da própria formação continuada.
Por fim, esses elementos em potencial dirigem nossas ações, direcionam nossas condutas, embasam nossas atitudes e práticas diante das culturas, dos interesses e das necessidades específicas de uma nova geração de adolescentes e jovens alunos do Ensino Médio, com seus limites e potencialidades à espera de nossa colaboração sob um ato pedagógico reinventado e ressignificado. No seu contexto,“a boniteza de ensinar e aprender com sentido”, da qual nos envaidecemos, visto que educamos para a humanidade.
Professora Maria R.A.Bezerra (Leninha)
Mestranda em Educação.




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