FALE UM POUCO SOBRE
SUA EXPERIÊNIA NO ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA NO ENSINO MÉDIO.
Na premissa de que o
ensino da Língua Portuguesa se justifica sobretudo pelo objetivo de
desenvolver a competência comunicativa dos usuários da língua,
associo os versos poéticos de Cecília Meireles: “Ai, palavras,
ai palavras! Que estranha potência a vossa! Todo o sentido da vida
principia a vossa porta,” para evocar enredos e percursos
docentes que, embora semelhantes, nunca são idênticos nos diversos
tempos e espaços sociais e escolares, no entanto a prática com a
palavra, sempre tão potente, estará permeando a interface
leitura e escrita, para ressignificação pelo aluno. Neste sentido,
as minhas aulas estão abertas ao contato do estudante com a
multiplicidade de gêneros sociais, inclusive as variedades
linguísticas, que são sem dúvida, reflexo da pluralidade de
discursos. Para tanto, movida pelo desafio contínuo de aprender a
refletir sobre a própria docência, percurso sempre incompleto em
nossos tantos inacabamentos, conforme Paulo Freire. Entretanto,
imprescindível para transformar sentidos e sentimentos capazes de
criar situações de aprendizagem e mobilizar a capacidade dos
alunos produzirem e compreenderem textos nas mais diferentes
situações de comunicação. Obviamente, sem uma visão reducionista
ou preconceituosa do certo ou errado, porque modestamente iluminada
por uma visão política e humanizada. Contudo, por orientação do
próprio Sistema, dando ênfase à variedade padrão, considerada a
vertente de acesso à participação ativa do aluno do Ensino Médio
na vida social, à ascensão social e ao exercício da cidadania
QUAIS
OS DESAFIOS DO ENSINO MÉDIO?
O Ensino Médio como etapa
conclusiva da educação básica, considerada dos 4 aos 17 anos, só
foi efetivamente reconhecido a partir da emenda constitucional 59/
2009 e incluído no texto da atual Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional em abril/ 2013. Portanto, é absolutamente
recente sua revalidação como direito a ser garantido aos jovens
brasileiros. Assim, a chamada crise atual do Ensino Médio (graves
problemas de acesso, repetência, além do maior índice de
abandono), evidencia a ausência histórica dessa etapa educativa
como possibilidade de todos. Isto deve-se, ao reiterado foco do
Ensino Médio orientar-se por um modelo clássico dual,
secularmente
dependente e de modo consentido, sujeito à intervenção dos
interesses estrangeiros, inclusive pelos convênios e financiamentos
de órgãos presentes na indução das reformas educacionais,
que
prepara para a entrada na universidade ou a oferta de uma
profissionalização esvaziada também de uma formação humana
integral. Por isso, sob
a ótica política e social, concordo com a afirmação do
cientista Gaudêncio Frigotto no livro Ensino Médio:ciência,
cultura e trabalho: acorre às escolas de Ensino Médio uma juventude
marcada pela necessidade de escolaridade e de trabalho para prover
seus meios de vida. Logicamente, se ela não vislumbra ali sentido
para o seu projeto de vida, principalmente os alunos do 3º ano, ao
se confrontar com frustrantes expectativas: o ingresso na
universidade não representa uma possibilidade para a maioria e o
desejo de trabalhar ou melhorar profissionalmente, perdem o
interesse, a motivação e muitos desistem. Desse modo, o grande
desafio para o Ensino Médio, após sucessivas e infrutíferas
reformas adaptativas, consiste na legitimação de um redesenho
curricular, em uma
lógica que, segundo a Coordenadora Geral de Ensino Médio da
Secretaria de Educação Básica do Ministério da Educação Sandra
Garcia:” possa equilibrar saberes relevantes e projeto de vida, sem
desqualificar ou aligeirar a experiência escolar”. Assim, possam
“as juventudes”construir novos conhecimentos, habilidades,
experiências que permitam fazer suas escolhas e ter uma inclusão
emancipatória nesta sociedade, que cabe a todos transformar.
Principalmente, nós educadores, para quem o
sentido da integração do aluno à escola está muito vinculado à
sua identificação conosco, temos a grande, se não a maior parte
da responsabilidade de motivá-los, atuando numa atitude de
cuidado e ternura, na compreensão de que, parafraseando Guimarães
Rosa, o mais importante e bonito, do mundo, é isto: que as pessoas
não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas – mas que
elas vão sempre mudando. Em outras palavras, o crescimento dos
alunos depende substantivamente dos vínculos que estabelecem conosco
na convivência.
Quais são as características do professor do Século XXI
Na compreensão de que educar é
cuidar da semeadura da vida, fazer educação não se resume no
domínio da técnica; o conhecimento é importante, quando
ressignificado, mesmo assim, a ele é preciso que agreguemos à
nossa prática outros elementos que não estão nos livros: valores,
sentimentos e atitudes. Por isso, refletindo sobre a condição
docente, na qual se registram nossas vidas de professores do Ensino
Médio, ou seja, tentando buscar no coração da docência, o que nos
constitui e nos move nesse nível de ensino, selecionei algumas
palavras. Palavras simples, belas e potentes, que no meu
discernimento devem caracterizar o educador deste século, visto que
são elas geradoras de vida. Entre tantas, destaco: a afetividade, o
diálogo ,o respeito, a inteligência emocional
e o comprometimento com a própria formação continuada que se
tornou permanentemente necessária.
Inicio com força da afetividade,
sentimento capaz de criar redes de cuidados com o outro, pelo prazer
de estar junto, independente de sua condição. Logo, a linguagem
afetiva é uma abertura natural para o diálogo, que se opõe ao
autoritarismo, à autossuficiência e, consequentemente, inspira a
confiança e o respeito que ultrapassam os limites das disciplinas.
De modo que nessa relação linear vai se estabelecendo uma
convivência saudável de reconhecimento mútuo, não obstante sua
construção/reconstrução, muitas vezes, seja provida de tensões e
da possibilidade de equívocos, porém, nada que não possa ser
conciliado pela inteligência emocional em conexão com a práxis
oportunizada pela administração da própria formação continuada.
Por fim, esses elementos em
potencial dirigem nossas ações, direcionam nossas condutas, embasam
nossas atitudes e práticas diante das culturas, dos interesses e das
necessidades específicas de uma nova geração de adolescentes e
jovens alunos do Ensino Médio, com seus limites e potencialidades à
espera de nossa colaboração sob um ato pedagógico reinventado e
ressignificado. No seu contexto,“a boniteza de ensinar e aprender
com sentido”, da qual nos envaidecemos, visto que educamos para a
humanidade.
Professora Maria R.A.Bezerra
(Leninha)
Mestranda em Educação.
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